Tinha 8 anos e um irmão pouco mais velho quando soube que ia ter uma irmã. Achei fofo e decidi que o nome dela seria Ana Cristina e não qualquer um dos outros que meus pais queriam.
Lembro pouco da infância da minha irma, talvez por que achasse que ela era pequena demais para entender meu mundo, fofoqueira demais para entregar tudo que eu fazia para mamãe, ou criança demais para participar de minhas brincadeiras. Não me lembro dos seus primeiros passos, ou do primeiro sorriso. E agora me pego pensando que gostaria muito de me lembrar destes momentos.
Lembro dos seus olhos enormes e tristonhos, dos cachos lindos que ela tinha e que eu adorava pentear seus cabelos e fazer penteados e tranças. Lembro de escolher suas roupas e vestir ela como se fosse uma boneca, de acordo com meu duvidoso gosto, claro. De fazer nossos aniversários juntos e no mesmo tema, escolhido por mim, claro. De aprontar algumas vezes com ela também.
Minha irmã nunca foi um problema ou motivo de ciúmes pra mim. Não me lembro de disputar atenção, amor ou espaço com ela – diferente do meu irmão que tem quase a mesma idade que eu e disputava tudo com ele.. Ela não herdou meus brinquedos, minhas roupas ou amigos – a diferença de idade era grande.
Cresci e mudei de cidade. Namorei, troquei de namorados, de cidade, de emprego, de estilo. Ela namorava serio no sofá de casa, ia a Igreja, morava com a mamãe. Essa é a lembrança que tenho da sua adolescência. Não tínhamos afinidades, assuntos em comuns – eu me achava muito velha para dividir minha vida com ela, a menininha séria da casa. E pensava que minha mãe tinha muita sorte de ter uma filha dos sonhos nela enquanto eu vivia a vida por ai.
De repente ela veio morar comigo, para fazer cursinho. Foi um momento muito estranho, e bacana. Ela era séria e focada, eu doida e vivendo a mil por hora. Nos dávamos bem, mas eu continuava olhando para ela como a criancinha da casa. Observava seu noivado sem grande interesse, e suas tentativas de entrar em uma faculdade de medicina também. Por algumas vezes me meti e falei alguma coisa, que não me lembro o que foi. Acho que na verdade ela também não queria meus conselhos, ou eu não os tinha para dar.
O tempo passou e eu sempre com a ideia de uma criança na cabeça, da caçula, da minha irmãzinha. Nas nossas imensas diferenças, uma sendo o oposto da outra, passamos a ser mulheres. E nem percebi que ela cresceu.
E hoje, depois de termos passado as férias juntas ficou pensando quando tempo eu perdi não prestando atenção na mulher incrível que minha iIrma é. Ainda bem que nunca é tarde
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