quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Não esqueça quem você é

“Tenho saudade de mim mesma”, disse uma amiga, enquanto colocava a taça de vinho na mesa.

Era uma noite quente, de uma terça-feira qualquer. Mais um gole, ela abre um sorriso e fala. “Tenho saudade da garota que eu era. Eu era divertida, né?!”. Era muito. “Lembra quando a gente foi parar numa festa com strippers, num buraco quente, no centro do Rio?” Claro, foi uma das noites mais engraçadas da minha vida.
“Tenho saudade de não dar satisfação para ninguém, de não ter que avisar que vou chegar mais tarde, de entrar em casa de madrugada, esbarrar nos móveis e não me preocupar com o barulho, nem com os chopps a mais. De encontrar aquele filme que eu amo passando na TV e não ter que ouvir ‘esse filme de novo?’. Sinto falta daquela garota corajosa que eu era, que decidia viajar e ia. De fazer e depois pensar. Minha vida está ótima, casei com um cara bacana, tenho uma filha linda, mas me pego suspirando de saudade daquela garota que eu fui.”
Eu mesma só era a garota que eu gostava de ser porque tinha a presença dessa minha amiga e de algumas outras na minha vida. Me peguei com saudade de mim – saudade de mim com as minhas amigas. A vida urge. A gente corre. A semana passa e não conseguimos conversar 10 minutos ao telefone ou almoçar uma vez por semana ou sair pra fazer compras. As férias não caem na mesma época ou estão ocupadas com o namorado. Não sobram nem uns diazinhos para se aventurar com as BFFs.
E desde então, fico com essa frase da minha amiga na cabeça. E penso na importância das meninas para a gente lembrar quem a gente é. Os homens são muito melhores do que a gente nisso. Tem o futebol, o pôquer, o frescobol semanal. O choppinho no bar. Não é raro, estão lá batendo ponto com os amigos de infância. Tempo 100% deles, para eles serem o que são. O Leo, o Pedro, o João. Ali, eles não são o filho, o namorado ou o marido de ninguém. São eles, entre os amigos – e por isso continuam cada vez mais eles.
Acho até que a gente é meio vítima mesmo. Tem jornada dupla, academia, cabeleireiro, compras e o escambau, que temos que espremer dentro de 24 horas. Muitas vezes não dá tempo de fazer a unha durante a semana, mas reconheço que na maior parte do tempo falta empenho da nossa parte de manter as amigas em volta. E então, dá essa saudade louca da gente mesmo, que fica meio perdida, sem cúmplice, sem referência.
Mas ontem mesmo, encontrei uma amiga que mora em outra cidade. Jantarzinho básico de três horas em plena segunda-feira. Era assunto que não acabava mais. Fechamos o restaurante. Dormi feliz.
E amanhã, vou tirar quatro dias com outras duas – inclusive aquela que tem saudade dela mesma. Só nós três e uma vontade enorme de lembrar a garota que cada uma de nós é.
Texto de MPJ, 
publicado no site dela, 
escrito não sei quando ou para quem,
mas que hoje poderia ter sido
totalmente pra mim..

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