Texto publicado no blog http://www.todacriancapodeaprender.org.br/
Nesse mundo contemporâneo, ter, ser, saber, parecem fazer
parte de uma competição. Nesse mundo, alguns pais e algumas mães acabam
acreditando que é preciso que seus filhos saibam sempre mais que os filhos de
outros. E isso sim seria então sinal de adequação e o mais importante: de
sucesso.
O que uma criança deve saber aos 4 anos de
idade? Essa foi a pergunta feita por uma mãe, em um fórum de discussão
sobre educação de filhos, preocupada em saber se seu filho sabia o suficiente
para a sua idade.
Segundo Alicia Bayer, no artigo publicado em um
conhecido portal de notícias americano – The Huffngton Post -, o que
não só a entristeceu mas também a irritou foram as respostas, pois ao invés de
ajudarem a diminuir a angústia dessa mãe, outras mães indicavam o que seus
filhos faziam, numa clara expressão de competição para ver quem tinha o filho
que sabia mais coisas com 4 anos. Só algumas poucas indicavam que cada criança
possuía um ritmo próprio e que não precisava se preocupar.
Para contrapor às listas indicadas pelas mães, em que
constavam itens como: saber o nome dos planetas, escrever o nome e sobrenome,
saber contar até 100, Bayer organizou uma lista bem mais interessante para que
pais e mães considerem que uma criança deve saber.
Veja alguns exemplos abaixo:
• Deve saber que a querem por completo,
incondicionalmente e em todos os momentos.
• Deve saber que está segura e deve saber como manter-se
a salvo em lugares públicos, com outras pessoas e em distintas situações.
• Deve saber seus direitos e que sua família sempre a
apoiará.
• Deve saber rir, fazer-se de boba, ser vilão e utilizar
sua imaginação.
• Deve saber que nunca acontecerá nada se pintar o céu de
laranja ou desenhar gatos com seis patas.
• Deve saber que o mundo é mágico e ela também.
• Deve saber que é fantástica, inteligente, criativa,
compassiva e maravilhosa.
• Deve saber que passar o dia ao ar livre fazendo colares
de flores, bolos de barro e casinhas de contos de fadas é tão importante como
praticar fonética. Melhor dizendo, muito mais importante.
E ainda acrescenta uma lista que considera mais
importante. A lista do que os pais devem saber:
• Que cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer
cálculos a seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma
como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos posteriormente.
• Que o fator de maior impacto no bom desempenho escolar
e boas notas no futuro é que se leia às crianças desde pequenas. Sem
tecnologias modernas, nem creches elegantes, nem jogos e computadores
chamativos, se não que a mãe ou o pai dediquem um tempo a cada dia ou a cada
noite (ou ambos) para sentar-se e ler com ela bons livros.
• Que ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa
da turma nunca significou ser a mais feliz. Estamos tão obstinados em garantir
a nossos filhos todas as “oportunidades” que o que estamos dando são vidas com
múltiplas atividades e cheias de tensão como as nossas. Uma das melhores coisas
que podemos oferecer a nossos filhos é uma infância simples e despreocupada.
• Que nossas crianças merecem viver rodeadas de livros,
natureza, materiais artísticos e a liberdade para explorá-los. A maioria de nós
poderia se desfazer de 90% dos brinquedos de nossos filhos e eles nem sentiriam
falta.
• Que nossos filhos necessitam nos ter mais. Vivemos em
uma época em que as revistas para pais recomendam que tratemos de dedicar 10
minutos diários a cada filho e prever um sábado ao mês dedicado à família. Que
horror! Nossos filhos necessitam do Nintendo, dos computadores, das atividades
extraescolares, das aulas de balé, do grupo para jogar futebol muito menos do
que necessitam de nós. Necessitam de pais que se sentem para escutar seus
relatos do que fizeram durante o dia, de mães que se sentem e façam trabalhos
manuais com eles. Necessitam que passeiem com eles nas noites de primavera sem
se importar que se ande a 150 metros por hora. Têm direito a ajudar-nos a fazer
o jantar mesmo que tardemos o dobro de tempo e tenhamos o dobro de trabalho.
Têm o direito de saber que para nós são uma prioridade e que nos encanta
verdadeiramente estar com eles.
Então, o que precisa mesmo – de verdade – uma criança de
4 anos? Muito menos do que pensamos e muito mais!