quinta-feira, 15 de maio de 2014

Ser mãe é se fuder no paraíso”

Texto do Blog Mulher que corre com lobos com data de 6 de maio de 2013


Bento tinha 15 dias quando fui pela primeira vez à pediatra. Estava feliz e molenga exibindo meu rebento pelas ruas. Na consulta, ele se manteve quieto, exceto no momento em que ela tirou a sua roupa e tocou nas suas bolas. Bolinhas. Ele sempre detestou essa burocracia toda que envolve roupas. Houve uma fase (verão, obviamente) que eu evitava trocar as roupas dele, só para não contrariá-lo. Para sair do consultório fiquei 45 minutos na sala de espera dando de mamar para acalmá-lo. O que aprendi com isso? “Não se mexe com quem tá quieto.” Noutras palavras, Bento feliz, eu feliz. Bento quieto, eu imóvel.

Na volta para casa, ele veio no canguru dormindo (graças ao Senhor). Entrei na minha vila e cruzei com duas vizinhas, irmãs. Uma delas, mãe de 3 (haja coragem), me perguntou:

- Já teve vontade de jogar pela janela?

Eu ri e respondi:
- Ainda não! - eu só tinha 15 dias na condição materna, no momento com 8 meses, faz todo sentido.

-Vai ter! E é normal. Só não é normal se você jogar. Essa é a maternidade real. Você vai sentir raiva dele. Anota, pois isso não está nos livros.

Não está mesmo.

Ó bebê santo, fofo e indefeso! Sim, eles são isso tudo. Isso “tudo” é o que salva. Sua fofura e a ocitocina que foi descarregada no meu corpo durante o meu parto são as armas (do bem) que salvam Bento dos meus momentos de fúria. 

Amiga mãe e gestante, eu não senti, e sinto com frequência, raiva, eu senti, sinto e sentirei (inevitavelmente) fúria! Fú-ria! Sabe pelo quê? Por coisas aparentemente idiotas, mas que ilustram o lado não muito cor de rosa da maternidade. 

Tipo, dormir. Depois de passar 8 meses dormindo picado, você quer ouvir a Sandy cantando “Imortal não morre no final” mas não quer ouvir a voz do seu filho te chamando às 2am. 

Outra coisa que vai te irritar, surtos de choro quando você está tentando uma interação social. Saio com meu filho para um almoço com amigos e ele resolve ficar enjoadinho, reclamão. Você pensa, normal né? Que tipo de criança quer ficar parada? Só as doentes ou as que foram embebidas num caldeirão de maconha ao nascer. Não foi o meu caso e eu não estou reclamando, mas… Me irrita, e assumo, me ressinto pela perda da minha liberdade. Conheço mães como eu e isso me alivia. Assumimos os pesares da maternidade sem nos abster de nenhum cuidado com nossos filhos (vai ter vontade de jogar, mas não coragem, lembra?).

Num livro muito divertido sobre a história de uma mãe que tinha um bebê pesado como o meu, ela cria a seguinte imagem: ser mãe é como estar dentro de uma piscina de ondas 24horas. É exaustivo.

Vejo na mídia e nos livros, discrições do paraíso em torno da maternidade. “Ser mãe é padecer no paraíso”- a frase soa bonitinho, comportado. Quer saber mesmo o que é ser mãe? Ser mãe é se fuder no paraíso. Você experimenta o maior amor que poderia sentir, pelo ser aparentemente mais adorável que poderia existir e, por conta disso, tem que suportar todas as dificuldades para cria-lo bem. Vai ter que dar espaço para ele exibir sua personalidade e o que vai te restar é aceitação.

Outra coisa que tinham que ensinar pra gente (se tentaram me ensinar, matei essa aulaé como ter, fazer brotar, paciência. Já me peguei com o Bento chorando, segurando sua mão e emanando o ohn. Ele parou de chorar, não porque se acalmou com o mantra, mas porque achou esquisitíssimo sua mãe de olhos fechados repetindo a mesma coisa. Acho que no fundo ele sabia: “é melhor eu parar, ela está no limite, vai me colocar na cestinha.” Existe prótese de paciência? Eu compraria.

Quando estou na piscina de ondas por muito tempo, direto com ele sem alguém para me render, entro num estado irritável muito grande. Levo ele para passear e me deparo com mães felizes na pracinha. Nada me faz mais culpada e raivosa do que mães felizes na pracinha. Começa a conversa de Alice no país da maternidade. Meu impulso é falar “Tá bom, vamos falar a verdade, tem horas que dá vontade de bater a porta e isolar a chave, num é?” 

Não está nos livros, nem na internet, nem na conversa das mães da pracinha, o lado negro da maternidade. Você vai querer tomar um porre. Vai querer passar o dia na Prainha, e não duas horas do melhor sol no Ipa bebê cercada de crianças que jogam areia em você. Vai querer ouvir Florence and The Machine no carro e não o novo cd do Palavra Cantada. Vamos! Assuma!

A única coisa que essas falsas expectativas fazem é gerar culpa. Saio da pracinha me sentindo odiável e com pena do Bento por me ter como mãe. Também não está nos livros, culpa é inerente à maternidade, andam de mãos dadas. Sua motivação é que você quer ser a melhoooorrr mãe do muuundo. O que não sai como o esperado, vai para sua caixinha de culpa. O problema é que culpada, você procura ser melhooorrr ainnnddaaaa, enquanto deveria ser o melhor possível, pois você também é protagonista nessa história.

Talvez, eu me sinta culpada por essas palavras (ou seria um desabafo?), mas vou me prender ao que minha vizinha me disse. Eu não joguei pela janela.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

As Bodas de Latão (ou Lã)

A minha escova de dentes sempre gasta mais do que a dele. 
Gosto de vinho, ele de Ice.
Ele adora dormir de conchinha, eu já quero me esparramar pela cama.
Ele é todo organizado financeiramente, eu nem sei a ultima vez que tirei um extrato.
O banho dele é de 1 hora, o meu 15 minutos.
Meu chuveiro está sempre no verão, o dele no inverno. 
Ele dorme de cobertor, eu morro de calor.
Eu assisto o mesmo filme várias vezes, ele acha um terror.
Ele adora um futebol, eu torço o nariz
Eu espalho tudo no carro. Ele espalha pela casa. 
Eu nunca dei certo com nenhum esporte, ele joga futebol muito bem.
Vivo rodeada dos meus amigos, ele vive pela família.

Como Eduardo e Mônica, não somos nada parecidos. Mas diante de tantas diferenças, temos uma coisa em comum, que supera todas as divergências: é amor. Ele nos use, igual, aproxima e completa.


Quem um dia irá dizer

Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?



Os 07 anos de casados, ou as bodas de latão ou lã.  Segundo a tradição, por que a lã é maleável, adaptável e confortável, podendo-se fazer muito com ela, e o latão apesar de ser um metal, também tem essa adaptabilidade, mas é colocado nessa boda por ser resistente a manchas e capaz de durar, então esse dois elementos são qualidades essenciais em um casamento aos 07 anos - a união tem que estar resistente, durável e maleável.